Fotógrafo constrói observatório pertinho de Curitiba pra receber entusiastas
A paixão do fotógrafo e produtor de vídeos Sérgio Mendonça Júnior, 57 anos, ultrapassa os cliques do obturador e alcança o espaço sideral. Ao longo dos anos na profissão, ele se aprofundou nas técnicas da astrofotografia e as aplica desde 2001, na região dos Campos Gerais. É uma paixão que resulta em imagens do céu, do espaço e dos astros estudadas passo a passo até a perfeição das luzes e composições.
Nos últimos dois anos, uma parceria com o Hotel Fazenda Cainã, em São Luiz do Purunã, cidade de Balsa Nova, na região metropolitana de Curitiba, permitiu a realização de um sonho de Mendonça: a construção de um observatório astronômico para realização de astrofotografias e divulgação de conhecimento da astronomia para os visitantes. A estrutura ainda não está finalizada, mas já conta com telescópios de 511 mm e de 350 mm. Embora a área do observatório seja do hotel, as visitas ao local não deverão ficar restritas aos hóspedes.
O fotógrafo é apaixonado pelo céu desde a adolescência, quando com 15 anos construiu uma ligação afetiva com o Aeroporto do Bacacheri (Cindacta II) e também pela aviação. “Gostava de ver os aviões, antes mesmo de começar na fotografia”, conta Mendonça. Com 17 anos, em 1979, a aproximação com a profissão veio por meio da produção de slides para conteúdos audiovisuais. “Eu vi que os professores precisavam para as aulas. Comecei a fazer um bico. Foi o meu primeiro passo”, revela ele.
A ideia não é barata. Equipamentos fotográficos e para astronomia modernos têm alto custo. Por isso, o objetivo é que o projeto seja sustentável. Entre as possíveis atividades comerciais do local, está a observação dos eventos celestes pelos hóspedes do hotel fazenda, cursos rápidos de fotografia que podem incluir outros estilos que não seja apenas a astrofotografia e, também, abertura para turismo com visitação externa. “É uma espécie de refúgio. A gente já faz várias coisas por lá, mas todo mundo deitava no chão para observar uma chuva de meteoros. Agora, em cima de contêineres, fizemos um mezanino seguro para essas observações. Com uma estrutura que proporcione conforto e segurança é outra história”, projeta Mendonça.
Uma segunda etapa, segundo ele, será a construção de um laboratório de macrofotografia. O espaço será uma proposta alternativa dentro da profissão. “A expectativa é grande”, diz. E a aposta nos Campos Gerais não é à toa. De Ponta Grossa e do Parque Estadual de Vila Velha saíram as primeiras exposições de astrofotografia e um livro. “Tenho uma verdadeira paixão por essa região”, ressalta.
Profissão e paixão!
Mendonça ganha a vida com fotografias corporativas. O início da carreira nas fotos foi com trabalhos informais, que duraram quase dez anos, enquanto ele dividia o tempo com a profissão de bancário na área de processamento de dados. Até que, em 1990, constituiu empresa de fotografia. “Sempre trabalhei com parcerias, trocando informações e dividindo espaço com outros colegas. A gente aprende que isso foi fundamental para viver de fotografia”, conta. Os clientes dele, geralmente, são do setor automotivo, empresas da área de aviação, da indústria e de projetos tecnológicos. “O grosso do sustento sempre veio daí”, revela.
A evolução da área, segundo ele, também precisa ser acompanhada de perto. “Por exemplo, temos a evolução para o vídeo. Minha primeira câmera foi uma Minolta SRT-101b [uma das precursoras das DSLR], o que era difícil de se conseguir. Agora, o celular está no bolso fazendo tudo e mais um pouco. O profissional tem que ser multifunção e ficar ligado em tendências para se manter no mercado de trabalho. Ao longo do tempo, os trabalhos tradicionais em várias áreas da fotografia foram ficando pra trás, não foram? Eu não quero ficar”, aconselha Mendonça.
Para se ter uma ideia do que se pode chamar de vontade de aprender, a busca por novas técnicas de fotografia celeste costuma invadir a madrugada dele. “Desde sempre. Quando a internet ainda engatinhava, eu trocava ideias com pessoas de outros países, sempre em busca de fabricar o meu equipamento ou conhecer novas técnicas”, conta Mendonça. O fotógrafo chegou a fabricar um tripé eletrônico para tirar fotos do céu. “Precisava desse tipo de tripé para acompanhar a rotação da Terra. É um tripé equatorial com acompanhamento sideral, esse é o segredo. Mas essa versão feita em casa dava muita manutenção. Tive que comprar um pronto”, brinca. O fotógrafo ainda conta que, hoje em dia, com o avanço na sensibilidade das câmeras, dá para fazer ótimas imagens com um tripé fixo.
Um pouco da trajetória
Sérgio Mendonça é natural de Regente Feijó (SP), depois foi morar em Porecatu e chegou a Curitiba em 1975, quando o pai, que era bancário, foi transferido. Em 1979, cursou Fotografia no Museu da Imagem e do Som e fez cursos que a Fuji Film do Brasil promovia em Curitiba. Além da astrofotografia, Mendonça pesquisa e desenvolve equipamentos fotográficos modificando câmeras para fotografia infravermelha, ultravioleta e fullspectrum. E realiza trabalhos experimentais com fotografias em espectro além do visível.
A sua exposição fotográfica “Tão Longe”, composta de astrofotografias realizadas durante 7 anos no Parque Estadual de Vila Velha, percorreu três cidades: Curitiba, Ponta Grossa e Irati, e teve mais de 80 mil visitantes. Já o seu livro “Ponta Grossa Imagens Histórias e Lendas”, produzido junto com Alessandra Bucholdz, foi lançado em Ponta Grossa com a publicação de mil exemplares. “Quem quiser ver, agora tem que aproveitar o exemplar que ficou comigo”, finaliza o Mendonça às gargalhadas.
O Hotel Fazenda Cainã, onde o observatório está sendo montado, fica Estrada da Lage, 5000, em Balsa Nova.
Fonte: Tribuna
Escrito por Alex Silveira