Antonina e Morretes buscam novo patamar turístico

Se Antonina e Morretes falassem, provavelmente soariam otimistas demais. Elas são senhoras de mais de 250 anos, donas de casinhas muito típicas entre o morro e o mar, e se enfeitam todos os dias para bailes com mais convidados.

O fato é que a duas cidades pretendem mudar de patamar nos próximos anos, atrair para as ruas sotaques e turumbambas, e mostrar ao País sinergia como Gramado e Canela, no Rio Grande do Sul, e Olinda e Recife, em Pernambuco.

Elas contam com aliados importantes para fortalecer o turismo do Litoral: a Paraná Turismo, braço estadual de promoção dos atrativos do Estado, a Agência de Desenvolvimento do Turismo Sustentável do Litoral do Paraná (Adetur), o Sebrae e as associações e empresários reunidos em torno da Grande Reserva Mata Atlântica, entidade societária de idealizadores desse bioma.

Esses são os principais fiadores do namoro. As estratégias de noivado são reuniões e discussões perenes com o objetivo de fortalecer a cadeia dos atrativos já existentes e criar uma programação turística com mais festivais, gastronomia e esportes.

Morretes e Antonina vivem prioritariamente do setor de serviços, que engloba turismo, comércio e hotelaria. Morretes tem no portfólio o trem da Serra do Mar (entre os três maiores atrativos do Estado ao lado das Cataratas de Foz do Iguaçu e da Ilha do Mel) e é sede do segundo polo gastronômico do Paraná (só perde em número de clientes para a polenta italiana de Santa Felicidade, em Curitiba). Antonina é berço de um dos principais carnavais do Estado e de um santuário ecológico com rios, cachoeiras e floresta quase intacta nos pés do Pico Paraná.

Os produtos típicos também são atrativos extras das cidades, pequenas pontes entre o que se fazia no passado e o dia a dia do presente. As balas de banana, o barreado e a cachaça devem conquistar em 2020 o selo de Indicação Geográfica do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), o que deve surtir efeito ainda mais emblemático nessa união.

Integração

“Temos que pensar nas duas cidades em conjunto, o que ainda não acontece de maneira automática. Mas estamos tentando retomar essa parceria aos poucos. A Maria Fumaça e a Grande Reserva Mata Atlântica são tentativas de concretizar de vez essa união”, afirma Patricia de Assis, diretora executiva da Adetur e uma das principais personagens dessa retomada. “Esse é o maior desafio desse ano, discutir roteiros integrados, trabalhar as duas cidades como indutoras do turismo de todo o Litoral do Paraná”.

A agência de governança do Litoral congrega as sete prefeituras e as sete secretarias municipais de Turismo, além dos empresários e associações locais, que têm, inclusive, cadeiras na direção. A instituição foi fundada em 2006 com intuito de mapear deficiências, conectar as pontas e efetivar essa integração dentro da estratégia de regionalização dos atrativos da Paraná Turismo e do Ministério do Turismo. Morretes e Antonina são um dos cases.

“Cada cidade tem interesse de promover os seus atrativos, e a Adetur tem o interesse em agregar todos eles. A agência tem conexão com os órgãos do Governo do Estado, parceiros externos, consegue captar recursos de forma mais organizada e alcança o mercado, as grandes agências, com mais solidez. Nosso desafio é estruturar melhor os serviços públicos das cidades e as atrações turísticas do Litoral”, pondera Patricia.

João Jacob Mehl, diretor-presidente da Paraná Turismo, explica que o órgão discute periodicamente estratégias de atração em parceria com as prefeituras do Litoral e organizações da sociedade civil para ampliar o número de visitações nas duas cidades fora da alta temporada, quando as belezas naturais ficam mais distantes do sol.

“Estamos criando essa harmonia. Para o Estado é fundamental que as duas cidades e seus comércios trabalhem em conjunto, se divulguem e ampliem a interlocução com o mercado. São cidades com produtos típicos, história e natureza, que podem fazer um contraponto a Gramado e Canela”, arremata Mehl. “Esse modelo de integração regional permite prolongar a estadia e o consumo dos turistas nos nossos estabelecimentos”.

Visão global

Uma das principais iniciativas de integração regional é um networking caiçara que acontece duas vezes por ano para apresentar novidades do mercado para empresários locais. O encontro tem como objetivo provocar a rede para estabelecer mais profissionalismo na relação comercial com os turistas, principalmente diante dos desafios da era digital. A Adetur, coordenadora da atividade, também presta serviços de consultoria nas áreas de turismo, gestão, marketing e elaboração de roteiros para os empresários.

“Essa visão mais global tem aumentado nos últimos anos dentro das duas cidades, há uma espécie de sinergia para o mesmo caminho, mas ela ainda depende de muita atenção de todos os atores envolvidos”, diz Tiago Choinski, gerente do escritório da Serra Verde em Morretes e diretor de projetos da Agência de Desenvolvimento do Turismo Sustentável do Litoral do Paraná.

“E é um movimento que está crescendo nas duas cidades, o que também induz as prefeituras a melhorarem os serviços urbanos. Também é um desafio diante do novo perfil do turista, que já traz consigo muitas informações sobre os destinos turísticos”, acrescenta Choinski.

Allana Cristina Araújo, responsável pela programação turística da prefeitura de Antonina, ajuda a internalizar essa onda na administração municipal. “O comércio abria às 9 horas na cidade, costumávamos brincar que até mesmo os restaurantes fechavam para o almoço. É uma realidade que já está ultrapassada, existe essa conscientização da nossa vocação turística”, comenta. “A ideia é juntar. Oferecer nossos serviços em Morretes e os deles em Antonina”.

Calendário turístico mais amplo é um dos objetivos de Morretes

A formatação de um calendário mais amplo de eventos é um dos principais objetivos do Morretes Convention e Visitors Bureau, entidade apolítica e sem fins lucrativos formada por empresas empenhadas em apoiar o desenvolvimento do turismo na cidade. Nesse sentido, Morretes deu um passo à frente em relação a Antonina.

O Convention foi um dos idealizadores do Morretes Chef, festival que começou em 2019 e deu nova roupagem aos produtos típicos locais, como o barreado, a mandioca e os frutos do mar, e do Nhundiaquara Jazz Festival, que reúne quase 100 músicos de todo o País nos teatros e no coreto morretiano.

A empresária Carmem Maria Matsumoto dos Santos é uma das incentivadoras desse novo ecossistema. Ela tem três estabelecimentos comerciais em Morretes, apesar de ter nascido em Antonina. São duas lojas de artesanato e uma de decoração – a primeira está de pé desde os anos 1990. Segundo ela, além da classe empresarial da cidade, a própria população já entende que a integração de forças é fundamental para o crescimento, e que ele só virá com a aposta na vocação do turismo.

Por experiência própria, Matsumoto explica que Morretes recebe um fluxo muito grande de turistas de São Paulo, Santa Catarina e do interior do Paraná. “A cidade tem essa dinâmica. São clientes de todo o País. Temos que aproveitar esse momento de crescimento nas visitações e nas vendas para conquistar os turistas”, complementa.

Tânia Madalozo, herdeira do restaurante de mesmo sobrenome na curva do Rio Nhundiaquara, em Morretes, também participa ativamente dessa tentativa de integração regional. A família mantém o comércio, que tem capacidade para receber 750 pessoas simultaneamente, há 52 anos.

“Eu sirvo, em média, três mil refeições por mês. Os restaurantes da região também têm registrado lotação, principalmente nos fins de semana. Isso mostra que conseguimos replicar uma tradição quase teatral de serviço do barreado e do tempero dos frutos do mar. Estamos integrados e de olho no crescimento do Litoral”, afirma.

Antonina tem Carnaval e festivais de inverno e de blues

Antonina, na outra ponta, conta com o Carnaval, que chega a atrair 150 mil pessoas, e com os tradicionais festivais de Inverno e de Blues. A cidade ainda tenta emplacar programação mais completa com eventos na Ponta da Pita, o espaço de praia do município que recebeu o futevôlei do Verão Maior, e no Vale do Gigante.

“A prefeitura tem um plano de desenvolvimento do turismo, e dentro das ações existe esse aspecto de regionalização e formatação de novos eventos. É importante para atrair aquele turista que chega a essa região pelo trem, pela Serra da Graciosa ou pela BR-277. Ainda são eventos incipientes, mas também temos um Festival de Siri, eventos de corrida e de carrinho de rolimã, que são tentativas de estabelecer calendário mais robusto”, afirma Allana Cristina Araújo.

Maristela Mendes, dona das Balas Bananina, uma das duas empresas do mesmo doce que qualquer paranaense conhece ao olhar a embalagem, também vê com olhos açucarados esse movimento. “É uma tendência do turismo, da ausência de pontos direcionados, mas da possibilidade de roteiros alternativos e mais desafiadores. Com isso, Antonina, Morretes e até mesmo Guaraqueçaba acabaram aparecendo mais no cenário nacional nos últimos anos. Estamos direcionados a aproveitar essa onda”, acrescenta.

“Apesar das vendas na visitação serem altas, buscamos vender os nossos produtos em outros estabelecimentos turísticos do Litoral, espalhar a nossa marca para que ela alcance projeção nacional. A Indicação Geográfica, que deve ser conquistada neste ano, vai nos ajudar ainda mais nesse sentido. Acho que vai valorizar as duas cidades e expor essa união, que é mais do que necessária”, finaliza Mendes.

Fonte: AEN Paraná