Pescaria no Litoral do Paraná tem 200 anos de história; turismo mantém o ofício vivo

Cesto de peixes no chão. Cheio de peixes, o mar. Cheiro de peixe no ar. É assim todos os dias no Mercado Municipal de Pescados – ou simplesmente Mercado dos Peixes -, localizado na Praia Central de Matinhos, no litoral do Paraná. Na face da praia, o movimento de embarcações é constante durante toda a manhã, principalmente com canoas saindo do mar para descansar em terra firme.

“Saímos todos os dias umas 4 horas da madrugada, 3h30, e depois volta umas 10, 11 horas. Tem gente que chega a virar a noite no mar”, conta o pescador Adriano Pinheiro, de 49 anos, cuja família já está há gerações vivendo da pescaria. “Desde os 13 anos eu pesco. Vim de família de pescador, né: pai pescador, avô pescador. Os filhos ainda não, mas vamos ver”, comenta.

Há mais de 200 anos a pesca tem sido uma parte importante da economia no litoral paranaense. Prova disso é que, atualmente, haveriam pelo menos 6 mil pescadores vivendo nos municípios de Antonina, Guaraqueçaba, Guaratuba, Matinhos, Morretes, Paranaguá e Pontal do Paraná, municípios que concentram uma população total de 297.029 pessoas, de acordo com a estimativa mais recente do IBGE.

Contudo, o número de pessoas que vivem da pesca, mesmo que indiretamente, é bem maior. “Aqui, por exemplo, temos cerca de 200 pescadores, mas além do pessoal que pesca tem quem vende (o peixe), quem arruma a rede, o pessoal que ajuda a puxar o barco, os que fazem consertos…”, aponta Guido Ramos, pescador de 47 anos.

Com a chegada do verão e a alta no movimento turístico na região, agora é a hora dos pescadores lucrarem. Verão é a melhor época para gente pelo movimento, o preço sobe… É quando conseguimos ganhar um dinheiro a mais”, comenta Adriano. “Temos de aproveitar agora para lucarar, porque só tem movimento bom nas férias (de julho) e no verão”, emenda Joela Castellini, que há mais de uma década trabalha numa banca do Mercado de Peixes, espaço construído em 1996 – embora desde 1966 os pescadores já comercializassem seus produtos em barraquinhas no mesmo local.

Aos que estão interessados em comprar um peixe durante a temporada pagando mais em conta, a dica é conversar diretamente com os pescadores, na face da praia. “Pode chegar direto aqui, ver o produto, negociar e comprar direto com o pescador, que daí consegue um preço melhor”, diz Adriano.

Ofício estaria ficando sem herdeiros

Hoje com 51 anos, o pescador Felipe André Barbosa brinca que o mar já está no sangue de sua família. “Desde criança, quando tinha uns 7, 8 anos, já ficava na praia, na canoa, no mar… Família de pescador, já é do sangue”, brinca ele.

Essa hereditariedade do ofício, contudo, é algo que está ameaçado. Adriano Pinheiro, por exemplo, é filho e neto de pescadores e acabou também virando pescador. Seus filhos, contudo, não devem seguir o mesmo rumo, conforme relatou o próprio.

O cenário não chega a ser uma novidade. Um estudo da UFPR publicado em 2017, inclusive, já alertava sobre a questão, apontando a diminuição da entrada de novos pescadores, o aumento da idade média dos pescadores e o afastamento dos filhos à atividade.

Mas isso não significa que não tenha gente aparecendo e querendo aprender o ofício, viver da pescaria. O que acontece é que o perfil está mudando.
“Pescador, a safra de agora, já tem bem pouco filho de pescador. É mais gente que cansou da vida que tinha, quer fazer algo novo, mudar de profissão”, conta Diomar Correa Luiz, 49 anos. “Vem gente que quer começar e nós ensinamos. Mas de família tem sido bem pouco”, complementa.

Fonte: Bem Paraná